A mulher que deixa o cântaro é aquela que, ao sol do meio-dia, escondida de olhares, vai ao poço de Jacó buscar água. Ali, é encontrada por Jesus que diz a ela que poderia lhe dar a água viva, aquela que mataria sua sede existencial de uma vez.
A partir de sua conversa com Jesus, dois movimentos são realizados pela mulher: ela deixa o cântaro e vai anunciar Jesus aos conterrâneos.
É bom lembrar que Jesus utiliza metaforicamente o ato de se buscar água como a busca por plenitude existencial, portanto, ao registrar que o cântaro ficou para traz, temos a ideia de que o que era importante, a ponto da mulher dizer que Jesus não tinha como tirar água do poço, agora não é mais, pois a água viva foi encontrada.
Me parece que aquele que diz tudo o que ela tem feito, é reconhecido como o detentor de tudo o que ela precisa e sem querer violentar o texto, também me parece que realmente sua sede interior foi saciada. Então, para que continuar carregando o cântaro?
Decidir-se por Jesus, ou render-se a Jesus, implica em entrega completa e Ele nos avisou disso muitas vezes, pois sabe que nossa humanidade caída, sempre terá a tendência de continuar carregando cântaros a fim de enchê-los de águas que não podem nos saciar plenamente. Mas e nós, sabemos disto? Será que não nos falta uma atitude mais radical e ousada como a mulher? Quais cântaros continuamos carregando? Quais águas continuamos buscando? Coisas para se pensar…
Depois disto, a mulher volta a cidade para dizer que possivelmente Jesus era o Cristo.
A pergunta inicial é: se ela deixou o cântaro, demonstrando entrega e satisfação no encontro com Jesus, por que submeter a figura de Jesus aos demais na forma desta pergunta – “Venham ver um homem que me disse tudo o que tenho feito. Será que ele não é o Cristo?”
Penso que a mulher sabe que na cidade, estavam os representantes da religião e queria saber se aquele homem, Jesus Cristo, se enquadraria nas expectativas messiânicas vigentes.
Vejamos o que aconteceu:
Fica claro que o testemunho da mulher é fundamental para que muitos samaritanos reconheçam Jesus como o Cristo e assim, recebido nos corações, Jesus passa dois dias conversando com aquelas pessoas. Sobre o que conversaram? Especulando, penso ter sido uma conversa sobre o Reino de Deus, já que essa era parte fundamental da missão do Cristo e ele faz isso com aqueles que os judeus achavam infiéis e por isso indignos. Jesus se doa e fica com aqueles que o recebem e não importa a bandeira, a cor da pele, a etnia, ou coisas tão valorizadas por nós.
Para Jesus tudo isso é superficial, o que Ele deseja são corações sinceros.
Mas o versículo 42 destaca o que tomou o coração daquelas pessoas. Dizem a mulher que agora, sabem quem Jesus é, não só pelo testemunho que ela deu, mas por terem ouvido Jesus.
Aliás, a mulher se convence de que Jesus era o Cristo, por tê-lo ouvido, e agora seus conterrâneos também. A palavra foi suficiente para tocar em seus corações e me lembra a fala do autor de Hebreus dizendo que, “Pois, a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração. Hebreus 4:12”
Em tempos em que se exige de Deus, sinais e milagres, talvez seja bom repensarmos o papel da palavra em nossa espiritualidade e nos lembrarmos que é essa palavra que nos revela quem é o Cristo e que Ele é tudo o que precisamos. Que Deus nos ajude!
Hamilton Gomes
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Jesus deseja são corações sinceros. Que benção de texto.