Escrevi, escrevo e escreverei…

Quando mais novo, apesar do esforço do Sr. Sylas e da Dona Celina para que eu estudasse, não era muito próximo dos livros. Queria conhecimento sem esforço, uma conta que, hoje entendo, nunca fecha.

Mas depois de mais velho, principalmente ao adentrar no mundo sério da teologia, os livros, as palavras, as vírgulas, as regras gramaticais e o ato de expressar pensamentos em símbolos entrou em mim.

Não escrevo quanto gostaria, mas escrevo.

Semanalmente registro os roteiros das reflexões bíblicas que apresento na comunidade onde sirvo. Tempos atrás escrevi bastante para o “blogdomito”, os textos ainda estão lá. Lembro também do trágico momento da pandemia, quando, impulsionado pelo desejo de falar aos corações tão assustados diante daquilo tudo, apresentava uma live diária e escrevia meus pensamentos e reflexões que viravam vídeos. Não posso esquecer da graduação e da pós em Teologia, seus trabalhos, pesquisas e monografias.

Escrever se tornou algo bom de se fazer, ainda mais quando alguém especial, neste caso a Ana Lúcia, o amor da minha vida, diz que eu escrevo com o coração.

Em 2022, fui contactado pela editora Universitário para um trabalho chamado Agenda Esperança, uma agenda para alunos dos 8º e 9º anos contendo pequenos textos baseados em um calendário litúrgico, que deveriam ser a expressão de um versículo bíblico. Ou seja, eram 365 versículos a serem transformados em texto compreensível a adolescentes e jovens do ensino público. Desafio aceito e trabalho realizado com louvores. Com a parceria de meu filho Vitor Gomes, conseguimos produzir um excelente material. A tristeza é que ainda não foi lançado. Mas quem sabe ainda em 2024…

Mas essa história ganha uma proporção diferente em 2023, quando fui gentilmente convidado, novamente pela editora Universitário, para escrever um conjunto de 9 livros cujo tema central é Educação Socioemocional. O material, assim como o citado acima, deveria atender alunos, suas respectivas famílias e professores do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio.

Definitivamente um grande projeto, ainda mais diante do prazo apresentado.

Para encarar o desafio era preciso pensar na sua viabilidade dentro da minha agenda pastoral e musical. Nossa comunidade passava um momento de ajustes, talvez o último ano em que os respingos da pandemia ainda estavam presentes, era um tempo de definições, gente saindo, gente chegando e muito trabalho. E ainda havia a agenda da banda, que teria no fim do ano um de seus grandes momentos de estrada dividindo o palco com os amigos do Oficina G3 e ficando fora de casa por quase 2 meses. Me ajustei e encontrei uma janela nos meses de junho a agosto. O primeiro desafio estava vencido, teria 3 meses para escrever tudo aquilo. Obs. mesmo depois de ter o material de referência em mãos, me recusei a contar as páginas, mas sabia que seriam muitas.

Outro ponto era ter ajuda para que o material não ficasse fora da linguagem necessária para boa compreensão dos jovens, então, conversei novamente com o Vitor, meu parceiro de escrita e filho, não necessariamente nesta ordem, e tudo se acertou.

Havia também o fato de nunca ter me aproximado do assunto em questão. Portanto, teria que pesquisar e me dedicar a compreender um mundo ainda desconhecido. Um tanto assustador tudo isso.

Mas o principal desafio era entender se o projeto tinha a ver com o Reino de Deus e isso, para mim, importava muito.

Tenho 55 anos e já vivi muito mais do que ainda viverei, portanto, penso que devo gastar minha vida com projetos relativos ao Reino e mesmo os mais atraentes devem passar por esse crivo. Para resolver essa questão, pensei, conversei, orei e consultei meu coração. Será que tanto tempo gasto e trabalho realizado, ainda que remunerado, cooperariam para que o evangelho fosse divulgado? E a decisão ainda contava com outra questão: todo conteúdo deveria ser escrito de maneira laica, ou seja, sem citar diretamente nada de cunho religioso. Não poderia escrever nenhum versículo, ou história bíblica e isso ficou para ser resolvido no momento da escrita, mas não saiu da minha cabeça.

Em tudo isso, pensei nos jovens e suas famílias que terão acesso a esse material, que será distribuído na rede pública municipal e estadual de ensino. Pensei em seus dilemas, crises de identidade, lutas com sua aceitação pessoal. Pensei nos problemas dos que não tem um lar estruturado, dos pais que não sabem o que dizer quando aquelas perguntas difíceis sobre ética ou qualquer outro assunto do tipo chega a eles. Pensei nos professores, verdadeiros heróis mal pagos de nosso país, que precisam ser reconhecidos pelo esforço em dar valor a algo tão desprezado em nossa sociedade como a cultura e o conhecimento. Pensei na possibilidade de ajudar alguém que nunca conhecerei, mas que chegará perto dos valores do evangelho de Jesus Cristo, ainda que não explícitos, mas presentes neste material.

Como está claro, aceitei o desafio e o trabalho começou.

Nesses 3 meses, o tempo era gasto em pesquisa, compreensão e escrita de temas, como autorresponsabilidade, autocuidado, resolução de conflitos e muitos outros que compõem o texto. Ainda houve o desafio de escrever para 3 públicos diferentes: alunos, pais e professores. E para 3 séries diferentes também. Dias intensos e complicados.

Não foram poucas as vezes que pensei “Não dará certo!”. Mas quem tem bons amigos e uma boa família, tem mais facilidade para ir adiante e foi o caso. Ana, Vitor, Rafael e Matheus, obrigado por me aguentarem quando a tensão estava alta.

Vocês também são a razão de todo este trabalho e sem vocês, nada teria sentido.

Papai e mamãe que me apresentaram o evangelho, torceram e oraram por mim durante o projeto. Muito obrigado!

Meus amigos do Resgate que sempre me incentivaram, mostrando possibilidades para o futuro deste trabalho, obrigado.

A Casa da Rocha Guarulhos também tem sua parcela de contribuição, por deixar seu pastor se embrenhar em um trabalho que consumiu tanto tempo e esforço, mantendo a oração e carinho por mim.

Preciso agradecer também a equipe da Universitário. Cris, Dani, Eloísa, Silvia e outras pessoas envolvidas no processo.

A gentileza, seriedade e liberdade que despejaram neste projeto fizeram toda diferença. Não posso esquecer da Lane, que contribuiu com sua experiência e acrescentou muito. E ainda ao meu filho Vitor. Companheiro na vida e agora na escrita. Você foi sensacional. Obrigado.

Tenho a ideia de “cristianizar” esse material, coisa que poderá acontecer em 2024. Vejamos o que nosso Senhor quer disso tudo.

À Jesus, minha gratidão maior e oração, para que nada disso seja em vão e gente possa ter ajuda em suas demandas da vida, ajustando suas relações e, quem sabe, percebendo Deus nestas palavras.

A todos que torceram e oraram, meu muito obrigado.

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COTIDIANO,DESTAQUE

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…