Marcos 10:21-22 (ARA)

E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.

Qual o retrato do bom pastor? Sim, a resposta imediata é: João 10:11 (ARA) (…) O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.

Essa são palavras de Jesus, quando se apresenta como “O bom pastor” e como aquele que realmente pode dar a vida por todos nós. Seu sacrifício nos salvou, nos redimiu e como disse João Batista, Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Então, somente Jesus pode dar a vida por outros.

A vida pastoral me ensinou que em certo aspecto, podemos imitar Cristo nesse ato de entrega. Sim em certo aspecto, mas não totalmente.
Apesar de eventualmente termos uma grande vontade de faze-lo, não podemos trocar nossa vida com ninguém. Não podemos morrer no lugar de ninguém, não podemos carregar ou substituir ninguém. Quando o assunto é sacrifício pleno, isso cabe somente a Jesus. Assim, o pastor deve compreender seu limite e mesmo diante de uma situação em que a compaixão tome conta de sua alma, não podemos trocar de lugar com ninguém.
Algumas vezes isso me ocorreu, não muitas, mas algumas.

Ver uma criança em uma cama, carregando uma doença terminal, pode gerar esse sentimento. Caminhar com alguém que não consegue se livrar de um vício, de um trauma, de uma angústia, pode despertar no pastor o desejo de resolver a situação tomando aquela dor para si.
Mas não podemos. Podemos e devemos ter compaixão, mas não podemos assumir outra vida.

A situação se complica quando, já experientes na vida, nos deparamos com gente que amamos e com quem nos importamos tomando decisões erradas.

Pastores, talvez nem todos, gastam sua vida ensinando o evangelho.

Pressupõe-se que aqueles que estão ouvindo e caminhando conosco, estejam aprendendo algo. E esse é nosso esforço. Aliás um grande esforço.

Defendendo o clero, digo que um pastor sério, gasta sua vida, aprendendo e ensinando. São horas de meditação e preparo para entregar à comunidade uma reflexão que não seja do tipo, bater cartão, cumprir obrigação, mas que traga consistência ao rebanho.

Muitas vezes, falamos o que não queremos falar. Muitas vezes, falamos o que os outros não querem ouvir. Mas falamos. Seja no púlpito, seja no aconselhamento, seja nos corredores da comunidade, seja no whatsapp, seja no face, aliás, seja qual for a ferramenta, um pastor decente, apresenta a palavra de Deus e espera que ela mude a vida das pessoas.

Mas muitas vezes, isso não ocorre.

Com Jesus aconteceu exatamente isto.

Procurado por outro jovem que admirado pergunta: qual o caminho para a vida eterna? Jesus, o próprio caminho, diz: Marcos 10:21 (…) Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me.
Mas aquele jovem não queria ouvir aquilo.
palavra de Jesus, cheia de amor, como o próprio texto diz, não surtiu efeito. O jovem fez o que queria fazer.

Talvez seja essa uma das maiores dores da vida pastoral, ver aqueles que amamos escolhendo o caminho errado. E na verdade, como Jesus, não há nada a se fazer.
Falamos, ensinamos, exortamos, aconselhamos, mas, as pessoas escolhem seu caminho. E a nós, pastores honestos e fieis ao chamado, cabe choramos. Às vezes choramos muito!