LIVROS VELHOS, CONCEITOS NOVOS

Nos idos de 1999, me mudei com minha família para a cidade de Salvador BA. Na terra dos orixás, tinha eu a missão de implantar a igreja a quem servia. Foram muitos dias de trabalho árduo e ao final de quase 4 anos, o objetivo havia sido, muito bem, alcançado.

O sistema era o neo pentecostal, com ênfase na teologia da prosperidade, cura e promessa de vida abundante. Essas coisas que até os mais loucos desejam arduamente e para as quais os “clientes” não são difíceis de encontrar. Não posso dizer que não fui feliz e realizado. Penso que a graça e misericórdia de Deus estavam presentes, como hoje também estão, mas percebo que não era um bom caminho.

Dois livros em minha prateleira me remetem a esses tempos. Jerusalém – Uma cidade, três religiões de Karen Armstrong (Cia das letras) e Gálatas – introdução e comentário de Donald Guthrie (Mundo Cristão).

Ambos, com histórias distintas e interessantes, me proporcionam pensar a respeito de se repensar a vida.

Adquiri o livro a sobre Jerusalém na livraria Laselva em 2000. Não, não tenho uma super memória, aliás, costumo dizer que não esqueço minha amada esposa por ai, porque ela anda sozinha atrás de mim. O livro tem etiqueta de venda e na época eu marquei a data na contra capa e eu o comprei porque havíamos feito uma viagem para Jerusalém eu voltei fascinado pelo tema. Queria conhecer mais dessa cidade santa. Seus costumes, histórias, detalhes, fatos, curiosidades, e tudo o que pudesse me manter conectado aquele lugar onde havia me encontrado com as histórias bíblicas.

Dentro do universo Neo Pentecostal, uma viagem assim nos possibilita experiências místicas de um grau elevadíssimo. Recebe-se muita “unção”, “autoridade” e “poder”, afinal de contas, são lugares sagrados. Pedras, casas, ruas, estradas, tudo nos remete ao divino e a possibilidade de transcendência é perceptível em cada parada. Posso dizer que foi uma boa viagem, mas tomado por tal experiência, pensei que o conhecimento que desejava poderia ser adquirido através dos livros, o que estava correto, mas quem não estava preparado era eu.

A linguagem era mais técnica do que eu gostaria e as informações a respeito do processo humano que caracteriza Jerusalém como Cidade Santa, eram complexos demais para minha limitação cultural e histórica. Resultado, o livro foi deixado de lado.

O segundo caso, a respeito do comentário da carta de Paulo aos Gálatas, envolve uma moça chamada Zípora, aliás, Zípora Santos Sacramento, uma soteropolitana, estudante de teologia e que, na época, embarcou em missão em um daqueles navios “gringos” que atravessam o mundo, aportando em países onde o evangelho tem pouca penetração e junto com as igrejas locais desenvolvem um trabalho evangelístico muito importante.

Não me lembro de seu rosto, mas me lembro de ter recebido de suas mãos alguns livros que me foram dados de presente pois não poderiam ser levados em sua viagem. Parte de um conjunto de comentários bíblicos, incluindo o de Gálatas, e dois livros de estudo da língua grega. Fiquei feliz pelo presente e nunca mais encontrei a moça, mas ela nem imagina que, aos meus olhos, eu tinha mais o que fazer e aquele não era um momento em que tais livros teriam espaço em minha vida episcopal tão corrida. Os livros se juntaram a outros em alguma caixa lá em casa.

O interessante é que depois de tantos anos, estou aqui, escrevendo a respeito desses livros que agora estão em cima de minha mesa, recebendo atenção e o respeito que merecem, pois, o problema não estava com os livros, suas informações ou historias, mas comigo.

 A verdade é que eu mudei!

Repensei minha vida, repensei minha teologia, repensei meus valores, repensei minhas ideias, repensei minhas prioridades e encontrei um melhor caminho para mim e para os meus.

Eu encontrei o caminho do evangelho da graça de Jesus Cristo.

Histórias de mudanças são comuns e estão bem registradas. Uma rápida passagem pela internet e você encontrará gente que percebeu seu equivoco e mudou. Simples assim.

O comilão que entra na dieta, o sedentário que vai para academia, o workaholic que aprende a relaxar, o saudosista que aprende a conviver com o presente, e assim vai… E penso que mudar deve fazer parte da vida. Reavaliar-se, tomar outro rumo, readequar-se, tudo isso deveria ser mais comum do que é para todos nós.
Mas é preciso dizer que perceber-se e admitir-se errado talvez sejam os maiores impecilhos em qualquer processo de mudança. Sim, perceber é diferente de admitir. Pode se perceber sem admitir, pois admitir envolve quebrantamento, despojamento, humildade e havemos de concordar que diante de uma sociedade pautada em perfeição e performance, mudar, frequentemente não é bem vindo. Sempre há o questionamento a respeito de suas convicções e gente perguntando:
Por que ficou lá por tanto tempo se não concordava?
Por que demorou tanto?
Você disse que era o sonho e agora mudou de opinião?
Tá cuspindo no prato que comeu?
Bem, a resposta é simples. Estava porque concordava. Fazia pois achava correto. Acreditei porque me parecia bom. Mas a partir do momento em que a certeza se esvaiu, a mudança foi necessária.

Talvez o detalhe seja percebermos que a mudança que vale a pena é aquela que nos possibilita uma melhora, um crescimento, um upgrade de nossa realidade atual. Digo isso porque pode se mudar para melhor, mas também pode se mudar para pior e, sabemos bem que nossa natureza humana nos direciona, com muito mais facilidade para mudanças que irão nos piorar. Dessas, devemos fugir.

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COTIDIANO

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…