LOGOS

João 1:1-5 (NVI)

1 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. 2 Ela estava com Deus no princípio. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. 4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. 5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.

João, o discípulo amado, dá início a sua narrativa com uma das mais lindas e profundas apresentações da pessoa de Jesus, o Cristo.

Na difícil tarefa de traduzir um texto tão profundo, os estudiosos escolheram o termo “palavra”, o que em português empobrece demais o sentido daquilo que João queria dizer com a palavra grega λογος, ou na transliteração para o português – “logos”, pois muitos são seus significados e o termo “palavra” apresenta em parte sua ideia.

O filósofo grego Heráclito (600 a.C), apresenta seu conceito metafísico de λογος, como aquilo que é fundamentalmente incognoscível, desconhecido, incompreensível; e a origem de toda repetição, padrão e forma. O termo também é definido pelos estoicos, filósofos seguidores de Heráclito, como o princípio inspirador divino que impregna todo o universo. Muitas outras correntes de pensamento, religiões e filosofias o utilizaram, sendo esse, inclusive, um princípio conhecido no mundo helênico. Mas João o faz de maneira especial, pois em sua mente estava Jesus. Para João, Jesus é o λογος, o que Paulo confirma em Colossenses 1:15 a 23.

Sendo Jesus o λογος, João quer dizer que Jesus é a força criadora de todo o universo, que Jesus é eterno, pois estava com Deus e ainda; sabendo-se que João estava “construindo” a teologia a respeito do Filho e afirmando aquilo que os judeus resistiriam em aceitar; João estava afirmando categoricamente, que Jesus, o filho de José e Maria, que havia caminhando entre eles era YHWH.

A afirmação de João, “Jesus é Deus”, deveria ter força para conduzir judeus incrédulos a reconhecerem o Messias, mas deve ter, ainda hoje, força para conduzir aqueles que procuram completude e sentido para vida e também a própria Igreja de Jesus ao mesmo caminho, pois, uma das possibilidades de interpretação do termo λογος também é “razão”, “causa” ou ainda “motivo”.

E o que mais procuramos nessa vida senão razão causa e motivo?

Tais pontos formam o conjunto de palavras que pode definir o sentido da vida para cada ser humano na história da humanidade, pois todos querem encontrar e se encontrar nesses três quesitos, pois todos querem Deus.

João está dizendo que todos encontrarão Deus em Jesus, pois Jesus é Deus.

Mas vejo também, na Igreja desse tempo, a falta de compreensão de que Jesus é Deus. A minha frente está uma igreja que esqueceu sua “razão”, não sendo mais o Cristo a “razão” de sua existência e vida.

Me pergunto: Se Cristo não é a “razão” da igreja, o que é?

Hoje, a “razão” da Igreja, em grande parte, é poder, dinheiro, política e outras coisas que ganham força e prioridade no lugar daquele que foi apresentado por João como a “razão” de tudo, inclusive da existência de sua própria igreja. (Efésios 1:22)

A minha frente, também está uma igreja que não sabe sua “causa”, no sentido de “ser a causa” nem no sentido de “ter uma causa”.

Por “ser a causa” entendo o sacrifício de Jesus, que se fez homem e servo (Filipenses 2:05) por amor a sua igreja (Efésios 5:25). Tal sacrifício deveria ser o destaque das pregações e conversas, mas não é isso que se vê. O sacrifício de Cristo perdeu espaço. Seu amor gracioso foi esquecido. A cruz não é mais o centro, pois foi substituída por sacrifícios, unções, mandingas e bobagens gospel, ou ainda por intermináveis elucubrações teológicas que desviam a atenção da obra redentora do Cristo.

A igreja perdeu de vista “ser a causa” do que Cristo fez na Cruz.

Por “ter a causa” entendo aquilo que a igreja deve fazer prioritariamente: Dizer a todos que o Reino de Deus já está entre nós. (Atos 28:31)

A igreja tem por “causa” sinalizar que o Reino de Deus já está aqui e dizer a todos que as coisas mais importantes não são aquelas que podemos ver, apalpar e adquirir, que certos valores aclamados por nossa sociedade não levam ninguém a nada, que não é possível ser feliz quando vivo a vida como “eu” e não como “nós”, que devo acolher os excluídos, amar os abandonados, cuidar dos feridos e dar esperança aos despedaçados de alma.

A igreja deve sinalizar o Reino, sendo lugar para pecadores que sabem quem são pecadores, mas querem viver juntos e compartilhar a vida, buscando ser gente transformada por Deus.

E ainda penso no “motivo”. Λογος também é motivo, o motivo de tudo e de todos e também da sua própria igreja e penso que em tempos de muito resultado e pouca motivação, a igreja está perdida.

As palavras de João ainda gritam: Jesus é Deus. Jesus é a “razão” a “causa” e o “motivo” de absolutamente tudo!

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BÍBLIA

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…