CHRIS CORNELL – A VOZ E O VAZIO

No dia 18 de maio, o mundo da música foi tomado de espanto com a divulgação da morte repentina de Chris Cornell.

O vocalista da banda Soundgarden e dono de uma carreira notável, incluindo seu trabalho solo e com o Audioslave, foi encontrado enforcado em um quarto de hotel na cidade de Detroit.

Juntando-se o fato de ter ocorrido após um show que, segundo os fãs, foi fantástico, cheio de energia e feeling, com o momento especialmente bom que vivia no âmbito pessoal e profissional, a morte de Chris se torna ainda mais difícil de se explicar.

Todos querem um motivo, todos querem a mais óbvia resposta: por que Chris Cornell tirou sua própria vida?

Bem, se pensarmos a luz dos valores de nossa sociedade, essa pergunta tem razão. Quem não quer ser famoso? Quem não quer ter dinheiro, quem não ter seu talento reconhecido? Quem não quer ter uma família estruturada? Quem? Quem? Quem?

Chris não queria. Ou ainda que quisesse, não sabia que não queria.

Chris Cornell queria paz. Chris Cornell queria a solução para aquilo que essas coisas não puderam dar a ele.

Sei que é um caminho piegas, mas se trata disso mesmo. Estamos falando de mais um astro da arte que, depois de experimentar todo sucesso possível e suas consequências, não se dá por satisfeito e subitamente recorre ao ato desesperador de acabar com tudo.

Chorão, Heath Ledger, Ingo Schwichtenberg, Kurt Cobain, Lucy Gordon, Marilyn Monroe, Alexander McQueen, Ian Curtis, Robin Williams e muitos outros, seguiram o mesmo caminho. Tiveram tudo, mas foi como se não tivessem nada.

Meus pensamentos não se baseiam em conhecimento acadêmico, pois esse não tenho mesmo, mas penso o que penso por algumas razões.

Primeiro: somos insaciáveis. Há dentro de nós um desejo incontrolável por algo que nem sabemos o que é, uma fome, uma carência, uma angústia, uma necessidade, uma falta, uma dor, que nada nesse mundo conhecido e palpável pode resolver.

Mas tentamos e sempre tentaremos sacia-la e assim, o desempregado quer um emprego, o empregado quer uma promoção, o funcionário que ser chefe, o chefe quer ser dono, o dono de um quer ter dois, o dono de dois quer ter três.

E assim vai… O que anda a pé quer andar de ônibus, o que anda de ônibus que andar de carro, o que anda de carro quer ter outro carro, o que tem dois carros quer três.

E assim vai… O que canta em casa quer gravar um cd, o que gravou um cd quer fazer um show, o que já faz show quer aparecer na tv, o que já aparece na tv que ser o a mais visto no YouTube, o que já é famoso no Youtube quer uma carreira internacional, o que tem carreira internacional quer ser conhecido em Marte.

E assim vai… O que tem uma mulher, quer ter duas, três, e assim vai…. Enfim, queremos preencher o coração com o que o coração não quer.

Segundo, o artista carrega em si a benção e a maldição. A benção é a capacidade que o artista tem de perceber o que poucos percebem e de reinterpretar tudo isso através de sua arte. Mas essa mesma capacidade dá ao artista uma percepção aguçada da realidade, que, diga-se de passagem, nessa vida é muito dura.

Penso que os olhos que enxergam a beleza, enxergam também a crueldade. Os ouvidos que ouvem doces notas e melodias também ouvem os gritos de desespero de sua própria alma.

O artista percebe a existência em sua beleza e também em sua dureza, em seu encanto e também em sua fragilidade, em suas possibilidades, mas também em suas perdas.

E o que o artista quer que sua arte faça? Que ela alivie a dor, que faça o bem a corações machucados, que dê esperança a frustrados, que alegre gente desconsolada, que preencha corações vazios como o coração de seu próprio progenitor.

Então, talvez a resposta seja essa: Chris Cornell cantou o que procurava e não encontrou, nem para si nem para ninguém. Sua arte, fala de seu coração para outros corações, talvez tão vazios como o dele.

Penso que Chris estivesse cansado de tentar se encontrar e naquela noite gritou com sua própria vida, procurando a resposta que estava na poesia da última música que cantou enquanto vivo, “In My Time Of Dying”, um clássico cristão regravado por Bob Dylan e Led Zepellin, que em sua letra diz:

Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Oh meu Jesus
Esse tem que ser o meu Jesus
Esse tem que ser, tem que ser meu Jesus
Tem que ser, oh, tem que ser meu Jesus

Esse foi o grito de Chris Cornell por toda sua vida. Ele sempre gritou por Jesus!

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COTIDIANO

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…