LECTIO DIVINA – O QUE É, COMO FAZ

Thelma Hall, rc
Edições Loyola – São Paulo – 2015 –

Penso que escrever um método a respeito de um assunto tão subjetivo quanto a oração é algo impossível, e talvez por isso a autora Thelma Hall, deixa claro que não é essa sua pretensão, mas sim, apresentar essa “maneira” de oração que, apesar de desconhecida atualmente, foi desenvolvida pelos monges e há muito tempo faz parte das práticas cristãs.

A intenção em ler o livro foi a busca por um aprofundamento em minha prática de oração.

A autora abre o texto dizendo que as pessoas têm apresentado um maior interesse por desenvolverem uma vida de oração, isso, provavelmente se deve à perspectiva de fim de mundo causada pela guerra fria, época em que o livro foi escrito.

Apesar de muitos modelos e métodos de oração desenvolvidos durante séculos, a Lectio Divina se apresenta como caminho à transcendência que pode fazer muito bem ao cristão que deseja mais de Deus. Alguns pontos do texto:

Capitulo 1 – A redescoberta da contemplação

Trata-se de um tesouro escondido e que precisa ser colocado de volta em seu lugar de importância na vida da Igreja e daqueles que procuram a Deus.

A Lectio é chamada de “método sem métodos, pois não se trata de um método, mas de um caminho natural a quem quer se relacionar profundamente com Deus.

A necessidade da contemplação tem sido cada vez maior e se deve ao fato de muitos cristãos perceberem que o mundo a sua volta não lhes satisfaz interiormente e o desejo de aprofundamento espiritual não pode ser satisfeito por conta própria, mas devem acontecer em corações abertos à Deus. Mesmo cristãos leigos devem buscar a experiência da contemplação em ação, pois não são excludentes, como muitos pensam.

Quando esse desejo de aprofundamento na relação com Deus aparece, deve ser acolhido e estimulado, assim acontece um redirecionamento continuo da vida. Utilizando a história da mulher samaritana em João 4, pode-se pensar que ele (Jesus) está tão empenhado hoje em nos ensinar e nos conduzir por meio de seu Espirito a segui-lo em amor e total confiança quanto sempre esteve na vida humana que viveu num momento especifico da história.

E continua a “estar à porta e bater” até “alguém ouvir minha voz e abrir a porta” (Ap3:20). Jesus viveu uma dinâmica de contemplação constante e que está descrita em todos os evangelhos e sendo seguidores de Jesus temos esse mesmo acesso ao Pai.

O caminho para contemplação, fruto da graça de Deus, tem mais de esvaziamento do que enchimento, mais de subtração do que adição, por isso, se torna tão difícil.

Capitulo 2 – Morrer para viver: a solução do paradoxo

O pecado nos afastou de Deus, do outro e de nós mesmos. Por querermos ser como deuses, não nos dominamos em nosso instinto, o pecado nos domina. Nossa natureza humana nos centraliza, somos o principal, o mais importante, nossas necessidades iniciais são sempre atendidas quando choramos no colo de nossa mãe, mas logo descobrimos que a vida não é assim, então, lutamos contra tudo e todos para nos satisfazermos.

Esse egocentrismo básico, é o oposto ao centra-se em Deus e no outro, e é, na verdade, uma resistência ao amor, fonte e significado de nosso ser. É por isso que a conversão pode ser descrita como um deslocamento do centro da pessoa, do auto-amor e auto-serviço narcisistas para o amor e serviço, em doação de si mesmo, a Deus e aos outros – isto é, um começar a ser quem realmente somos, a imagem de Deus que é amor.

Precisamos nos identificar com o eu autêntico e não com o eu ilusório.

O eu ilusório, que reivindica para si uma autonomia total, se trata como o eu autêntico. Essa ilusão de que o ilusório é o autêntico, é que traz frustração e dor a todos nós. O falso eu, é a prisão, da qual devemos escapar para atingir o verdadeiro eu e Deus.

Mas a entrega é difícil e assustadora, gerando crises e uma imagem equivocada de Deus, pois não queremos perder o controle de nossa vida a nenhum custo. A verdade é que só nos encontramos quando nos perdemos em Jesus, pois eu só descubro quem sou e possuo minha verdadeira identidade ao me perder.

Esse reconhecimento se transforma em experiência na contemplação, na entrega, no ato de se apaixonar por Deus. Na contemplação, começamos a abraçar essa verdade e ela nos abraça.

Esse reconhecimento se transforma em experiência na contemplação, na entrega, no ato de se apaixonar por Deus. Na contemplação, começamos a abraçar essa verdade e ela nos abraça.

Capitulo 3 – O aprofundamento de uma relação pessoal

Assim como não há métodos para se apaixonar, não se deve pensar na Lectio como um método. Trata-se de um aprofundamento na relação pessoal, sendo resultado do deslocamento do centro do eu para a pessoa amada.

Assim a vida muda, como a vida de dois apaixonados muda. Leva tempo e não se trata de uma meta, mas de um caminho.

“A Lectio Divina não é uma técnica objetiva a ser aprendida e seguida como um sistema que “produzirá” uma oração profunda. Ao contrário, ela é um processo orgânico, que ocorre ao longo de um período de tempo, tanto no microcosmo de um período de oração individual como no macrocosmo de um compromisso da vida inteira com Deus na oração viva do amor fiel.”

Esse processo não é como uma escada de santidade, mas o reconhecimento do amor incondicional de Deus por mim. “Nossa incredulidade diante do imenso amor de Deus e, também, um desprezo por nós mesmos ou um obstinado sentimento de culpa podem ser tremendos obstáculos ao amor de Deus, e são com frequência formas sutis e não reconhecidas de orgulho, ao colocar nossa parte ruim acima da misericórdia Dele.”

A Lectio divina nos auxilia nessa aceitação e nos prepara para a transição que esse relacionamento vai gerar.

  1. Não se trata de algo previsível e do qual temos controle, mas de um caminho diário de relação com Deus.
  2. Sinceridade acima de resultado. Ao nos depararmos com nosso fracasso, podemos perceber melhor nossa dependência de Deus.
  3. Leitura diária da bíblia

Capitulo 4 – Lectio Divina – Ler e ouvir apalavra de Deus
“O Espirito que Jesus prometeu que seria enviado pelo Pai em seu nome para morar dentro de nós é o mesmo Espirito que vivifica a palavra da Escritura. É minha fé ativa nesse Espirito, presente no mundo e em mim, que, quando trazida à leitura e audição da Escritura, “in-spira” ou respira” dentro dela a realidade viva do Falante.”

Com o devido desligamento do mundo que me cerca, devo escolher um texto, de preferência curto, e leio devagar, ouvindo-o interiormente com plena atenção.

Essa já é minha resposta a uma pessoa que me chama a abrir a minha mente e coração para ela. “Quando, ao ouvir as escrituras, somos receptivos a Ele que fala em nós, o que ouvimos poder ser mais do que aquilo que as palavras em si transmitem. O Espirito que lhes dá vida é ele próprio o significado, expresso por intermédio das palavras mais do nelas, (…)”

  1. Meditatio: refletir sobre a palavra
    “(…) Deus, em si próprio, é “outra língua” para nós, pois ele é incompreensível, em sua plenitude, para nosso intelecto e compreensão humanos finitos. Porém, ele se traduziu para nossa humanidade em Jesus.

    Nesse homem, que viveu e experimentou até as maiores profundidades possíveis a vida humana que compartilhamos, Deus revela-se a mim em carne e sangue. Jesus e a revelação de Deus, numa língua que posso entender e numa pessoa que posso conhecer e amar, não só como alguém que viveu e morreu na história, mas como alguém que vive agora, no meu mundo, em meu coração, e para sempre. E, por meio do dom prometido do Espírito, que me me foi dado, ele de fato fala a mim.”

    “(…) a oração é sempre uma reposta dada à iniciativa amorosa do Espirito Santo. E, como toda oração é dom Dele, é apropriado que peçamos o que desejamos” Obs: (a autora se refere ao que o texto no remete a pedir.)

    No meditatio, pode-se usar a imaginação para trazer a cena que a leitura observou a um estado maus próximo, incluindo o leitor. Ou deixar que a palavra ecoe no coração, percebendo os insights que aparecem durante a própria reflexão. O importante é orar com sinceridade, ainda de que modo simples, até mesmo, pedindo que o Espirito Santo que me ensine a orar.
  2. Oratio: A palavra toca o coração
    A meta da oração não são pensamentos ou conceitos ou conhecimentos sobre Deus, por mais sublimes que esses sejam, mas o próprio Deus como Ele é.

    Chega o momento em que percebemos que esse anseio é, ele próprio, a presença do anseio de Deus em nós. Nessa oração, nosso coração está aberto para Ele e por ele, para que sua luz possa entrar.

    Esse aumento do desejo virtuoso é um dos efeitos da Oratio. Por meio dela, Deus cria em nós uma capacidade maior para ele mesmo, não só por nosso anseio, mas às vezes pela própria frustração e impotência que experimentamos quando o procuramos cegamente. É como se estivéssemos sendo atraídos por uma força magnética em nossas próprias entranhas, na direção de Deus como nosso centro de gravidade, onde esse centro coincide com nosso verdadeiro eu.

Dom Marimion

Lemos – lectio

Sob os olhos de Deus – meditatio

Até que o coração seja tocado – oratio

E salte em chamas – contemplatio

Contemplatio – Entrada no silencio “profundo demais para palavras”

É entrar no desconhecido, abandonar todas as coisas familiares às quais nos agarraríamos por segurança e descobrir que em ser “miserável, digno de lástima, pobre, cego e nu” (Ap.3,17) (que a graça nos revela e que tememos reconhecer – muito menos aceitar – em nós mesmos) se encontra o potencial para toda a nossa esperança e alegria, porque conhecer nosso verdadeiro eu é saber que somos amados por Deus além de toda medida.

Talvez o mais simples e básico que possa ser dito sobre oração contemplativa é que ela é a aceitação do convite de Deus não só para confiar nele em tudo isso, mas para nos confiarmos a ele, de modo que Ele possa nos levar para além de nós mesmos, isto é, para além de uma consciência do ego superficial, que não pode entrar nessa jornada misteriosa para seu amor.

A partir da página 88, a autora apresenta “Cinquenta temas da escritura ara oração” que incluem assuntos como: Aceitação do amor; Confiança; Perdão, Reconciliação; Relacionamento e outros.

A intensão é dar ao leitor pequenos textos bíblicos que podem ser usados para realização da Lectio Divina diária. A leitura é de fácil assimilação e pode acrescentar aos corações que buscam uma relação maior com Deus.

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BÍBLIA

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…