NÃO GOSTAMOS DE PASTORES, GOSTAMOS DE CHEFES

Afim encontrar uma palavra melhor para falar a respeito desse delicado assunto, tentei outras alternativas: dono, senhor, líder, e algumas outras, mas não encontrando outra melhor…

Por que pensar assim? Bem, tal percepção se fortaleceu durante os 20 anos de pastorado nas cidades de Guarulhos, São Paulo, Salvador e Recife, quando então, pude lidar com pessoas de todas os tipos e vi, in loco, que se trata de um fenômeno real.

Para começar a conversa, preciso ser sincero e dizer que já fui muito mais Chefe do que pastor. Ordenando e não pedindo; pressionando e não suportando; gritando muito e falando pouco; centralizando e não dividindo; chegando com o plano perfeito e pouco me importando com o que achavam; andando poucas, na verdade, quase nenhuma milha; sendo santo e condenando outros; brilhando e ofuscando; enfim, sendo muito Chefe e pouco pastor.

Posso dizer que se trata de algo inebriante, como uma droga, que sempre se quer mais. Os feridos ficavam ao meu redor, tipo moribundos perdidos que temiam, mas não saiam de meu radio de ação. Talvez fossem alvos da mesma droga, mas por um outro viés.

E assim uma verdadeira fábrica de criar monstros funcionava sendo movida por paixão e ódio, admiração e desejo de fuga, submissão e rebeldia, tudo isso ao mesmo tempo. Apresentado assim, o cenário é muito sombrio e transmite a sensação da inutilidade de tudo o que foi feito, mas algumas situações devem ser avaliadas

Primeiro: a certeza de que nem tudo foi em vão!
Crendo na misericórdia e graça de nosso Deus, sei que, apesar de tudo, pessoas foram abençoadas e não por meus méritos, mas através de seu amor. Não dizer isso é desprezar os muitos testemunhos cheios de sinceridade que aliviam a dor de um passado do qual não tenho orgulho.

Segundo: ao se perceber o erro, pode-se mudar e começar de novo.

Terceiro: O exercício do pastorado, inclui a liderança. Sim, neste raciocínio, se faz necessária a troca do termo Chefe por líder, pois a diferença é grande e a própria Bíblia nos confirma a necessidade de a liderança caminhar junto com o pastorado, mas essa abordagem sobre o assunto se refere a elevação do pastor à uma categoria superior, tornando-se Chefe e isso acontece quando a primazia da vida pastoral se dirige para o extremo de uma liderança não servil.

Mentalize a figura do Chefe, e você encontrará, anexo a ela, a figura da infalibilidade; da perfeição; da onisciência, do escolhido por Deus para revelar seus mais profundos mistérios; do visionário brilhante cuja visão está acima de todas as outras… enfim, é disso que se trata. Provavelmente por isso que gostamos mais de Chefes do que de pastores.

Chefes são perfeitos. Pastores nem tanto.
Conhecem seus limites e falhas e reconhecem sua total dependência da graça divina. Sempre repetem em seu coração as palavras do apóstolo: Portanto, se vocês pensam que estão de pé, cuidem para que não caiam. (1 coríntios 10:12 – NVT)

Chefes encarnam a total sapiência. Sabem tudo e respondem a tudo, inclusive sobre a vida pessoal de suas ovelhas, ou pode-se dizer, de seus súditos.
Pastores não sabem de tudo e não fingem saber, pelo contrário, não lhes falta desejo de que suas ovelhas cresçam e aprendam a discernir o bem do mal, a ouvirem, por si só, a voz de Deus e saberem interpretar as escrituras, caminhando rumo a maturidade. Conhecendo as palavras de Paulo na primeira carta aos Coríntios, 3: 04 a 07, quando o apóstolo corrige os fiéis que se dizem seus seguidores, ou de Apolo, o pastor não se agrada da extrema dependência, pois não quer formar pessoas para si, mas para Cristo.

Chefes priorizam a estrutura e o projeto em detrimento as pessoas. Em seus objetivos, o que importa é o crescimento, a expansão, a inovação, ser vanguarda, estar à frente, ser o melhor, o maior. Pode-se então perceber que frequentemente, um projeto de poder está à frente do evangelho de Jesus Cristo.
O pastor olha para as pessoas e as tem em primeiro lugar em seu rol de prioridades.

Mesmo quando o irmão desafina, ou sempre chega atrasado, ou não faz o que prometeu, ou se mete onde não é chamado, ou dá mal exemplo.

Não importa se gente chata ou descolada, presunçosa ou humilde, sem cultura ou cheia de diplomas, com dinheiro ou sócia do SPC, com talento ou que não sabe fazer nada. Para o pastor, gente é gente, não pelo que tem, mas se é gente, vale a pena ser amado. O pastor suporta, ama e caminha junto, acreditando que pode haver mudança, pois para ele, gente não tem preço. Ele sabe que a direção dada por Jesus a Pedro, que afirmou ama-lo, foi: (…) “Então cuide de minhas ovelhas”, disse Jesus. (João 21:16)

O Chefe tem um apego especial ao exercício da liderança, sendo sua alegria o “ser chefe por ser chefe”. Assim, centralizador por natureza e senhor único de seu espaço, lhe é impossível distribuir responsabilidades, pois é desesperador perceber a sombra de um possível substituto. Diante da menor ameaça, sem pudor algum, acusa; agride; denigre e massacra seu opositor.

O pastor divide; dá; aposta; investe; acredita e estimula.

Sabe que a liderança em si, não deve ser o alvo, mas o caminho. O pastor Dadiv Hansen, diz: “Não saberia o que fazer se tivesse tentado se um líder. Meu melhor palpite é que liderança é algo que eu faço, enquanto estou fazendo tudo mais. ” (A arte de pastorear p.163).
O pastor, tem a consciência que sua liderança não é completa só porque tudo está sob seu absoluto controle. Não teme os possíveis rivais, pois não há apego a posição e caso seja traído, sabe que é assim mesmo, pois entende que na comunidade estão os bons e os não tão bons assim. Sempre se lembra de Moisés dividindo a liderança do povo (Êxodo 18:17), de Paulo, dando espaço ao jovem Timóteo (I Timóteo 1:18) e ainda de seu Mestre Jesus, acreditando e incentivando os discípulos que levariam sua mensagem ao mundo.

O Chefe é narcisista. E a necessidade de ser elogiado e reconhecido, cria ao seu redor, uma atmosfera bajuladora e mentirosa. James Houston, em seu texto: Liderança cristã e tendência narcisista afirma que:

“O problema reside no fato de que, como liderança e espiritualidade são conceitos vagos, provavelmente serão interpretados e desenvolvidos mais à luz dos conceitos de nossa sociedade secular e narcisista do que de acordo com a revelação bíblica de fé cristã e sua prática.”

Houston quer dizer que a espiritualidade atual é avaliada segundo os valores de nossa sociedade narcisista e que tais os valores, muitas vezes, dirigem o coração dos Chefes . James ainda apresenta algumas características que tipificam esse narcisismo:

“Na prática, o narcisismo espiritual significa assumir a responsabilidade pessoal de ser seu próprio Salvador, de ser a força que move e molda a própria espiritualidade. Pode significar também que a pessoa acredita que Deus a escolheu especialmente para ter habilidades excepcionais e fazer coisas especiais para Deus. Outra versão consiste em acreditar que se a pessoa tiver suficiente força de vontade e disciplina, poderá, e deverá melhorar sua própria autoimagem como cristão. Na realidade, o narcisismo espiritual, como condição, surge toda vez que a pessoa usa sua fé para si mesma, para alcançar sua própria interpretação da “vontade de Deus”. É, na realidade, a antítese absoluta da verdadeira espiritualidade, em que a pessoa se permite experimentar a misericórdia divina, vive com humildade e anda em retidão diante do Senhor.”

O pastor não é movido por elogios, ainda que goste deles. Ele sabe diante de Quem está e em seu coração e a máxima declarada por João Batista: É necessário que Ele cresça e eu diminua (João 3:30, NVT), é lembrada a todo instante que Narciso aparece.

Chefes são especialista em criar e fomentar um clima de competividade dentro da instituição e não se importam com as intrigas, com a maledicência, com a guerra pelo poder, com o falatório ou com a mentira. O Chefe sabe que sua posição em cima da pirâmide de poder que construiu o protege e não se importa que os demais se destruam.
O pastor não é assim. Sua guerra é contra o diabo e contra a natureza humana, por isso, não aprecia irmãos se digladiando, nem falatório desnecessário, ou qualquer disputa de poder dentro da estrutura, que ele entende ser necessária para servir o organismo vivo da igreja.

A paz é sua prioridade.

O Chefe, frequentemente, tem segundas intenções e o elogio pode ser interesse, a oportunidade dada pode ser necessidade enfim, sempre há uma sombra sobre suas atitudes.
Já o pastor procura ser o mais sincero possível, sendo assim no que faz, diz e ensina. Aliás, sabe que ensina mais no silêncio do que falando. Bem, a diferença está clara, mas a verdade é que todo pastor tem um Chefe dentro de si e precisa lutar, sempre com a ajuda do Espirito Santo, para que o Chefe não se sobressaia ao pastor. Às vezes algo terrível acontece, e o pastor vai perdendo espaço para o Chefe. Quando a influência do pastor aumenta, o reconhecimento de seu trabalho aparece, a estrutura ao seu redor fica maior, e então, acontece uma rendição ao modelo Chefe. Nem sempre é assim e é possível encontrar pastores que continuam sendo pastores, algo que me parece cada vez mais difícil, mas possível.

Mas o intrigante é que as pessoas gostam mais de Chefes do que pastores e a reposta ao fenômeno não é muito difícil de ser compreendida: Todos temos um Chefe dentro de nós.

O modelo Chefe é baseado na natureza humana e carrega marcas daquele que bíblia chama de “velho homem”. E, ainda que revestido de uma espiritualidade, se trata do bruto, não transformado, egocêntrico, vaidoso, melindroso, inseguro, apegado ao sucesso, a verdadeira anti imagem de Cristo. Por isso, gostamos mais de chefes, afinal, gostaríamos de estar no lugar deles, fazendo a mesma coisa.
Já o pastor, é aquele que aderiu ao modelo de liderança servil de Jesus, o qual não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos (Mateus 20:28). E assim deseja que os pastores sejam, dando a vida por pessoas. Então, fica claro que o modelo chefe sempre fará mais sucesso.

O triste é perceber que tudo isso acontece dentro do cristianismo, com homens chamados por Deus, que, quase sempre, são corrompidos e roubados pelo brilho do sucesso ministerial e, sem perceberem as nocivas consequências desse caminho, o abraçam com sua vida. Penso que o desafio de qualquer pastor é conseguir exercer sua liderança sem apresentar sintomas de Chefe e oro para conseguir continuar sendo mais pastor e menos Chefe. Que Deus me ajude.



O Chefe, frequentemente, tem segundas intenções e o elogio pode ser interesse, a oportunidade dada pode ser necessidade enfim, sempre há uma sombra sobre suas atitudes.
Já o pastor procura ser o mais sincero possível, sendo assim no que faz, diz e ensina. Aliás, sabe que ensina mais no silêncio do que falando. Bem, a diferença está clara, mas a verdade é que todo pastor tem um Chefe dentro de si e precisa lutar, sempre com a ajuda do Espirito Santo, para que o Chefe não se sobressaia ao pastor. Às vezes algo terrível acontece, e o pastor vai perdendo espaço para o Chefe. Quando a influência do pastor aumenta, o reconhecimento de seu trabalho aparece, a estrutura ao seu redor fica maior, e então, acontece uma rendição ao modelo Chefe. Nem sempre é assim e é possível encontrar pastores que continuam sendo pastores, algo que me parece cada vez mais difícil, mas possível.

Mas o intrigante é que as pessoas gostam mais de Chefes do que pastores e a reposta ao fenômeno não é muito difícil de ser compreendida: Todos temos um Chefe dentro de nós.

O modelo Chefe é baseado na natureza humana e carrega marcas daquele que bíblia chama de “velho homem”. E, ainda que revestido de uma espiritualidade, se trata do bruto, não transformado, egocêntrico, vaidoso, melindroso, inseguro, apegado ao sucesso, a verdadeira anti imagem de Cristo. Por isso, gostamos mais de chefes, afinal, gostaríamos de estar no lugar deles, fazendo a mesma coisa.
Já o pastor, é aquele que aderiu ao modelo de liderança servil de Jesus, o qual não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos (Mateus 20:28). E assim deseja que os pastores sejam, dando a vida por pessoas. Então, fica claro que o modelo chefe sempre fará mais sucesso.

O triste é perceber que tudo isso acontece dentro do cristianismo, com homens chamados por Deus, que, quase sempre, são corrompidos e roubados pelo brilho do sucesso ministerial e, sem perceberem as nocivas consequências desse caminho, o abraçam com sua vida. Penso que o desafio de qualquer pastor é conseguir exercer sua liderança sem apresentar sintomas de Chefe e oro para conseguir continuar sendo mais pastor e menos Chefe. Que Deus me ajude.








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VIDA

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Latest Comments

  1. Obrigado por essa reflexão só me faz estar mais disposta a obedecer e amar o Senhor Jesus.

  2. Oi Amiga Damaris. O privilégio sempre é meu. Obrigado por sua doação e entrega àqueles que precisam falar e agora…